sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A vida ensina que a felicidade jorra da intimidade. Não há outra fonte. Pode haver prazer na apropriação, alegria no encontro, júbilo numa boa surpresa. Porém, felicidade, como profundo deleite do espírito, só na intimidade amorosa, na oração sem imagens e palavras, na contemplação do belo, no acolhimento do ser querido, na entrega ao mistério, na eternização subjetiva de um momento, na poesia de um toque, um gesto, uma palavra que traz em si plenitude. Ausência de desejos; tão só deixar-se sorver pelo esplendor de uma paz que ora vem como brisa suave, ora sopra como vento forte e assustador.

Foto: Nunca esqueci de uma senhora que,ao responder por quanto tempo pretendia trabalhar,respondeu com toda a convicção: “Até os 100 anos”.O repórter, provocador, insistiu: “E depois?”.
“Ué, depois vou aproveitar a vida”.Quem viu o filme Fatal deve lembrar do professor sessentão,vivido por Ben Kingsley, que se apaixona por uma linda e jovem aluna (Penélope Cruz)e passa a ter com ela um envolvimento que lhe serve como tubo de oxigênio e ao mesmo tempo o faz confrontar-se com a própria finitude.No livro que deu origem ao filme (O Animal Agonizante, de Philip Roth),há uma frase que resume essa comovente ansiedade de vida:“Nada se aquieta, por mais que a gente envelheça”.Essa é a ardileza da passagem do tempo:
ela não te sossega por dentro da mesma forma que te desgasta por fora.O corpo decai com mais ligeireza que o espírito, que, ao contrário,costuma rejuvenescer quando a maturidade se estabelece.Como compensar as perdas inevitáveis que a idade traz?Usando a cabeça: em vez de lutarmos para não envelhecer,
devemos lutar para não emburrecer. Seguir trabalhando, viajando, lendo,se relacionando, se interessando e se renovando.
Porque se emburrecermos, aí sim, não restará mais nada.

(MARTHA MEDEIROS)




Nenhum comentário:

Postar um comentário