sexta-feira, 29 de março de 2013

Riscos





É um risco. Eu sei que é. Não passa de uma brincadeira sem piada que só faz sentido para mim. Mas, contigo, eu corro o risco. Corro o risco porque quero que me vejas.
Conheces-me de sandálias e sapatilhas, sem maquilhagem, com o cabelo meio despenteado e a roupa casual, do dia a dia. Para ti, eu não visto vestidinhos nem camisolas de festa. Para ti eu não passo horas em frente ao espelho, em busca da perfeição. Para ti eu não calço os saltos altos.
Conheces-me de rosto corado, de lágrimas nos olhos, de risos fora de contexto ou sem razão. Conheces-me assim porque, para ti, eu não me modero, não me reprimo, não finjo estar mal ou bem.
Conheces-me nas conversas chatas sobre obsessões pelo trabalho, esperanças para o futuro, crenças ancoradas em irrealismo. Contigo, eu não falo sobre o dia de hoje, não me perco em justificações do passado, não finjo que sou a miúda das festas e do glamour.
Conheces-me no medo da perda, no terror do silêncio, na impossibilidade do adeus. Para ti, eu não visto o disfarce, eu não me faço de forte, eu não me finjo desprendida. Contigo, eu não sou mais do que a menina por detrás da máscara de independência, da muralha de força. Frágil e magoada, sem motivos nem porquês.
Conheces-me no admitir das preferências, na confissão das falhas e dos erros, nas conversas sobre os arrependimentos sós que flutuam na minha memória. Contigo, eu não falo das qualidades mais do que dos defeitos nem enalteço as vitórias acima dos erros. Contigo eu sublinho o que há de negro em mim.
E é um risco. Eu sei que é. Não passa de uma brincadeira sem piada que só faz sentido para mim. Mas, contigo, eu corro o risco. Corro o risco porque quero que me vejas. Porque, um dia, quero ser a pessoa que acorda despenteada ao pé de ti e que veste roupa casual. Corro o risco porque quero que me conheças o rosto corado, os risos, as lágrimas. Corro o risco porque quero partilhar contigo conversas sobre o trabalho e sobre o nosso futuro. 
Não quero ser, para ti, mais uma menina bonita de conversas fúteis. Quero que saibas o que quero, as coisas em que acredito. Quero que saibas que também caio, que também erro, que não sou forte a tempo inteiro.
Contigo, eu corro o risco. Corro o risco de ser eu sem barreiras. Corro o risco de ser o pior de mim. Corro o risco porque não quero ser para ti só um momento. Corro o risco porque, se não me amares assim, não poderás amar-me para sempre.

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