sábado, 11 de maio de 2013
A oração da Maçaneta Não há mais bela música Que o ruído da maçaneta da porta Quando o meu filho volta para casa. Volta da rua, da vasta noite, Da madrugada de estranhas vozes, E o ruído da maçaneta e o gemer do trinco, O bater da porta que novamente se fecha, O tilintar inconfundível do molho de chaves, São um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar. Só assim fecho os meus olhos, Posso afinal dormir e descansar. Oh! A longa espera, a negra ausência, As histórias de acidentes e assaltos Que só a noite como ninguém sabe contar! Oh! Os presságios e os pesadelos, O eco dos passos nas calçadas, A voz dos bêbados na rua, E o longo apito do guarda medindo a madrugada, e os cães uivando na distância, e o grito lancinante da ambulância! E o coração descompassado a pressentir E a martelar, na arritmia do relógio do meu quarto Esquadrinhando a noite e os seus mistérios. Nisso na sala que se cala, Estala a gargalhada jovem da maçaneta Que canta a festiva cantiga de retorno. E sua voz engole a noite Com todos os ruídos secundários. Oh! Os címbalos do trinco, E os clarins da porta que se escancara, E os guizos das muitas chaves que se abraçam, E o festival dos passos que ganham as escadas! Nem as vozes da orquestra, e o tilintar de copos, E a mansa canção da chuva no telhado, Pode sequer se comparar ao som da maçaneta que Sorri quando meu filho volta para casa. Que ele retorne sempre são e salvo, Marinheiro depois da tempestade, A sorrir, e a cantar, E que na porta a maçaneta cante sempre A festiva canção de retorno que soa para mim, Como uma suave cantiga de ninar. Só assim, só assim meu coração se aquieta, Posso afinal dormir e descansar. Gioia Jr.
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